segunda-feira, 5 de março de 2007

o modernismo em portugal

Tendências culturais: entre o Naturalismo e as vanguardas

Nos inícios do século XX, em Portugal, a produção literária e plástica era ainda profundamente marcada pelo classicismo racionalista e naturalista, em manifestações apáticas e decadentes, que evidenciavam forte resistência à inovação. Ao monótono e decadente rotativismo político correspondia uma não menos monótona e decadente produção intelectual. Os interesses materiais dos burgueses sobrepunham-se aos interesses culturais, condicionando a liberdade de expressão.
Todavia, sobretudo após a implantação da República, as novas propostas estéticas e literárias que triunfavam na Europa começaram a estender-se ao Ocidente Ibérico com o aparecimento dos primeiros movimentos de vanguarda. Grupos de intelectuais portugueses organizam-se em círculos de contestação da velha ordem e iniciam-se no recurso a estratégias provocatórias e na resposta, por vezes desabrida, às formas políticas e culturais conservadoras e reaccionárias à modernidade:
É o Modernismo, enquanto movimento estético e literário de ruptura com o marasmo intelectual, que irrompe em Portugal.
Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob iniciativa privada, num esforço de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das quais as novas opções culturais eram demonstradas e divulgadas.
Todavia, o baixo nível de alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as novidades intelectuais tinham maior presença, não proporcionaram abundância de público culturalmente interessado nos novos eventos culturais, apesar do esforço em prol do desenvolvimento empreendido pelos governos republicanos, com a promoção do ensino e da informação.

O Modernismo na literatura

O Modernismo na literatura foi praticado por duas gerações de intelectuais, ligados a duas publicações literárias: um primeiro modernismo surgido em 1915, em torno da revista Orpheu; um segundo modernismo organizado em 1927, em torno da revista Presença.


a revista Orpheu

Os únicos dois números desta revista, lançados em Março e Junho de 1915, marcaram a introdução do Modernismo em Portugal.
Tratava-se de uma revista onde Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa, entre outros intelectuais, subordinados às novas formas e aos novos temas, publicaram os seus primeiros poemas de contestação da velha ordem literária.
O primeiro número provocou o escândalo e a troça dos críticos, conforme era desejo dos autores. Os jornais apelidaram-nos de mistificadores da realidade e intelectuais alienados. O segundo número, que já incluiu também pinturas futuristas de Santa-Rita Pintor, suscitou as mesmas reacções.
Apesar de Fernando Pessoa ainda mostrar vontade de publicar mais dois números, perante o insucesso financeiro, a revista teve de "fechar portas".
Todavia, não se desfez o movimento organizado em torno da publicação. Pelo contrário, reforçou-se com a adesão de novos criadores e desenvolveu intensa actividade na denúncia inconformista da crise de consciência intelectual disfarçada pela mediocridade académica e provinciana da produção literária instalada na cultura portuguesa desde o fim da Geração de 70, de que Júlio Dantas constituía um bom exemplo.

O Modernismo nas artes plásticas

O Modernismo na pintura

Os pintores modernistas também estavam ligados ao movimento Orpheu de Fernando Pessoa. Tentaram lançar a sua revista Portugal Futurista, sob direcção de Almada Negreiros, porém, com a apreensão do primeiro número, o escândalo provocado nos círculos intelectuais conservadores foi tal que não voltou a sair.
A pintura modernista desenvolveu-se em Portugal, a partir de 1911, por acção de Dordio Gomes e Santa-Rita Pintor e, sobretudo, após o regresso de um grupo de artistas portugueses emigrantes aquando o começo da Guerra Mundial - Diogo de Macedo, Francisco Franco, Eduardo Viana e Amadeo de Souza -Cardoso.
Não se pode falar de escolas artísticas claramente definidas, em Portugal. Eram artistas que cultivavam os vários estilos, desde que pusessem em causa o conservadorismo dos temas e das técnicas da pintura clássica, à semelhança do que ocorria na Europa. E foi grande a polémica e escândalo suscitados pelas primeiras exposições modernistas.
Perante a ausência de público, os criadores plásticos modernistas regressam a Paris, após o fim da guerra, acompanhados por Almada Negreiros e João Abel Manta, que se destacam numa segunda geração de pintores modernistas. Almada Negreiros, na pintura dos frescos da gare de Alcântara, denota um claro vanguardismo estético, no geometrismo das formas, na intensidade das cores e na força comunicativa dos temas.
Já na década de 30, também radicada em Paris, destaca-se Maria Helena Vieira da Silva como um dos maiores vultos europeus da pintura abstraccionista.


O Modernismo na arquitectura

A arquitectura não se desenvolveu grandemente no período que estamos a tratar. As dificuldades políticas vividas durante a 1ª República a que se juntavam as dificuldades económicas e financeiras não propiciaram os empreendimentos arquitectónicos, normalmente dispendiosos. O pouco que se construiu permaneceu fechado à inovação e revela a persistência dos esquemas arquitectónicos clássicos.
Só no final dos anos 20 e sobretudo durante o Estado Novo é que se notam algumas preocupações em conjugar algumas formas do Modernismo europeu com o nacionalismo salazarista. O pavilhão da Exposição do Mundo Português, de Cottinelli Telmo, entretanto demolido, e a Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa, de Pardal Monteiro, com vitrais de Almada Negreiros e um friso na entrada de Francisco Franco, constituem as manifestações mais importantes do Modernismo arquitectónico português.


O Modernismo na escultura

Paralelamente à arquitectura, a escultura também não atingiu desenvolvimentos importantes nos inícios do século. Só durante o Estado Novo se desenvolveu uma escultura de feição nacionalista pouco aberta à modernidade. Francisco Franco, Canto da Maia, Leopoldo de Almeida, Lagoa Henriques e Gustavo Bastos foram alguns dos mais importantes escultores da primeira metade do século.

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